A História por trás da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida

Reconhecida como a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida é celebrada anualmente em 12 de outubro, atraindo milhões de fiéis à sua Basílica em Aparecida, no Vale do Paraíba paulista. A devoção, que começou com um achado surpreendente no século 18, é marcada por fé, milagres e uma profunda conexão com a história nacional.

O "Milagre dos Peixes" no Rio Paraíba do Sul

A origem da fé em Nossa Senhora Aparecida remonta a outubro de 1717. Em um episódio que entraria para a história como o "milagre dos peixes", os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia buscavam peixes no Rio Paraíba do Sul. Devotos da Virgem Maria, eles encontraram em sua rede o corpo de uma imagem sacra, sem a cabeça.

Lançando a rede novamente, pescaram a cabeça da santa. A partir desse momento, a estátua se tornou tão pesada que mal conseguiam movê-la e, inesperadamente, a pesca se tornou abundante.

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A imagem resgatada das águas era, originalmente, a de Nossa Senhora da Conceição, celebrada em 8 de dezembro. Por isso, seu título oficial é Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

"Nossa Senhora é Maria, mãe de Jesus. Aparecida é o título. E a gente tem que lembrar que, no Brasil da colonização, Nossa Senhora da Conceição foi promulgada padroeira de Portugal e de todo domínio português. Ou seja, está presente em nossa história desde a colonização", explicou o padre e professor da PUC-SP, Felipe Cosme Damião Sobrinho.

A Santa Negra: Por Que a Imagem é Escura?

Uma curiosidade frequente é a cor escura da imagem. Segundo especialistas, a razão é dupla: a estátua foi encontrada no fundo do rio por estar quebrada.

"Para não jogar no lixo, jogava-se nos rios. Estava totalmente enegrecida por causa das águas do rio, mas certamente estava em um oratório. A fumaça das velas também contribuiu na cor", detalhou Sobrinho.

Essa é a explicação mais aceita para a cor negra de Nossa Senhora. "Nossa Senhora se tornou negra com o tempo. E essa é a beleza do sinal, em um contexto de um país escravocrata, principalmente naquela região por causa das fazendas", complementou o professor da PUC-SP.

Devoção e Milagres

A devoção cresceu de forma orgânica e espontânea, impulsionada por relatos de milagres. Um dos mais conhecidos é o episódio da libertação do escravizado Zacarias. Ao passar por uma capela dedicada à santa e pedir para rezar, os grilhões que o prendiam se quebraram.

"O povo começou a cultuar Nossa Senhora Aparecida, não foi a igreja. Foi algo espontâneo. Depois foi que a igreja autorizou o culto. Mas começou da base, do povo, da fé das pequenas comunidades, sobretudo os negros", pontuou um professor da PUC-MG.

A imagem foi inicialmente abrigada na casa de Felipe Pedroso. O crescimento da fé levou à construção da Basílica Velha (inaugurada em 1888) e, mais recentemente, à consagração da Basílica de Nossa Senhora Aparecida pelo Papa João Paulo II em 1980.

Conexão com a Seleção Brasileira

A Padroeira do Brasil também tem uma relação inusitada com o futebol nacional. A cor de seu manto azul, doado pela Princesa Isabel, foi a justificativa usada por Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo de 1958, para que a seleção usasse camisas azuis na final contra a Suécia. A partida, vencida por 5 a 2, marcou o primeiro título mundial do Brasil.

Por Que a Celebração é em 12 de Outubro?

O dia 12 de outubro foi oficialmente designado como feriado nacional no Brasil em 1980, pela Lei 6.802, promulgada pelo presidente João Figueiredo.

Embora a descoberta da imagem tenha ocorrido em data imprecisa na segunda quinzena de outubro de 1717, a escolha do dia 12 foi uma convenção. "Nossa Senhora é padroeira do Brasil desde 1930. É importante lembrar que, no calendário antigo, a maternidade divina de Maria era celebrada em 11 de outubro no calendário romano", explicou Sobrinho.

Outro fator é a coincidência histórica com a data da conquista da América (12 de outubro de 1492). O dia 12 de outubro também é marcado por outros eventos significativos no Brasil, como a aclamação de Dom Pedro I como imperador (1822) e a inauguração do Cristo Redentor (1931).