
John Michael Osbourne nasceu em 3 de dezembro de 1948, na cidade operária de Birmingham, Inglaterra — mas o mundo o conheceu por outro nome: Ozzy. Ícone do rock, pai do heavy metal, símbolo da rebeldia e da sobrevivência, ele foi mais do que um artista. Ozzy Osbourne foi um marco cultural. E, agora, torna-se também uma ausência que reverbera em silêncio.
A morte de Ozzy marca o fim de uma era em que o rock ainda era rito, transgressão e catarse. Sua trajetória, — conhecida pelos extremos que a marcaram— , é também a história de uma geração que se viu representada naquilo que era feio, imperfeito, desajustado e, humano.
Mas, antes do mito, houve o garoto. E antes da lenda, houve o grito.
Nascido e criado no caos do pós-guerra, cercado pelo aço, trabalho e pela desesperança que permeava o cotidiano brutal operário, Ozzy fez dos escombros do caos, fundação para seu palco de onde ecoou o primeiro grito: um som que, mais tarde, viria a se transformar na voz do Heavy Metal.
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A origem do som: o nascimento da banda que cantava sobre o fim do mundo
Em 1968, na companhia de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, Ozzy fundou o Black Sabbath. E mais do que uma banda, ali, o Sabbath inaugarava uma nova atmosfera: sombria, distorcida, profética, trazendo à tona os sons que ecoavam do âmago da fragilidade humana. Se o rock já existia, foi com o Sabbath, que ele passou a carregar o peso da ruína humana.
Álbuns como Paranoid (1970) e Master of Reality (1971) não apenas definiram o gênero heavy metal: deram voz ao medo, à guerra, à loucura. Em tempos em que a música popular ainda flertava com o romantismo e a psicodelia, Ozzy cantava sobre colapsos nervosos, conflitos internos e o apocalipse terreno que passar a fazer parte do cotidiano.
O personagem construído para estar no palco — olhos delineados de preto, corpo em transe, braços abertos como um profeta caído — não era uma construção de imagem. Era a expressão de algo real. O palco, para Ozzy, sempre foi um lugar de expurgo.
Expulsão, recomeço e o legado solo
Depois de ser afastado do Black Sabbath no ano de 1979, por conta do uso excessivo de drogas e álcool, Ozzy viveu um exílio que, em vez de destruí-lo, o serviu de alicerce para a construção do que um dia viria a ser chamado de mito. Com o álbum Blizzard of Ozz lançado no ano de 1980, iniciou sua carreira solo força surpreendente, sendo impulsionado por sua parceira com o guitarrista Randy Rhoads, que veio a falecer de forma trágica dois anos depois.
Hits como "Crazy Train," "Mr. Crowley" e "Suicide Solution" não apenas marcaram sua trajetória artística e consolidaram seu nome. Eles reforçaram o que muitos já diziam: Ozzy era a personificação do próprio gênero. Cada disco lançado, trazia um fragmento novo de sua dor, fúria e fé quase ingênua na salvação pela música.
Mesmo fora do Sabbath, Ozzy manteve seu pacto com o sombrio — e fez disso poesia distorcida. Seus álbuns, shows e turnês se tornaram parte da história do rock, canções e histórias que atravessaram gerações e criaram uma base de fãs que não via em seu ídolo um herói, mas um espelho.
A face humana do mito
No ano de 2002, o mundo passou a conhecer o "outro Ozzy": o marido, pai, e o homem. O reality show The Osbournes, originalmente transmitido pela MTV, revelou um ícone vulnerável, às vezes desorientado, mas também afetuoso cômico e acima de tudo, real.
Ao contrário do que se vê no histórico dos realitys, essa exposição não destruiu sua imagem. Permitir que fosse dessa forma, na verdade reforçou a ideia de que sua força vinha justamente da fragilidade que nunca fez questão de esconder. Ozzy nunca se apresentou como inalcançável. Era, desde o início, um sobrevivente —da desesperança que permeava sua realidade quando ainda era um menino, do vício, da dor, da fama e de si mesmo.
Nos últimos anos, mesmo tendo que conviver com o diagnóstico de Parkinson e sofrendo as dores das cirurgias, seguiu criando. Lançou Ordinary Man (2020) e Patient Number 9 (2022), álbuns que soam como cartas de despedida, mas também como testemunhos de resistência.
Muito além da música
Ozzy Osbourne transcendeu o papel de vocalista. Sua figura tornou-se um símbolo do rebelde arquetípico — não aquele que desafia por vaidade, mas o que confronta a norma porque não sabe viver de outro modo. Em sua arte, nunca houve concessão. Em cada nota cantada, havia dor, entrega e verdade. Um alento que confortava os corações das multidões por onde passava.
Sua relevância e legado ultrapassam o rock. Ozzy representa um momento em que a arte ousava ser desconfortável. Em que o feio e o estranho também tinham lugar no palco. Em que a autenticidade se tornava um grito de sobrevivência por meio da performance.
O que fica
Com sua morte, o mundo perde mais que um músico. Perde um dos últimos representantes de uma linhagem de artistas que viveram à margem — não como moda, mas como destino.

Ozzy Osbourne não foi perfeito. Não foi herói. Mas sua sinceridade — crua, visceral, desajustada e por vezes incoerente — construiu um legado difícil de medir com as métricas contemporâneas. Seu impacto está nas camadas invisíveis: no adolescente que encontrou consolo num riff grave, no adulto que aprendeu a rir da própria ruína, e no fã. Que viu, na figura do ‘Príncipe das Trevas’, a permissão para existir sem máscaras.
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